A CIDADE DE
CAPAMPANHA NOS ANOS DE 1.9330 A
1.932
DR. SERAFIM
MARIA PAIVA DE VILHENA
"Para que não se possa abusar do poder, é preciso que o poder controle o
poder"
Montesquieu
"Se quiser por a prova o caráter de um homem, dê-lhe
poder"
Abraham
Linconl
"A
sequêmcia do terror aos movimentos
revolucionários
constitue uma fatalidade histórica. Arrazam-se as
Bastilhas
mas
da convulsão social surgem tipos anormais que
toma-
dos pela vertigem do poder se entregam as mais
atrozes
perseguições".
Waldemar
Veiga de
Oliveira
Foram anos de grandes movimentações políticas em todo
País, provocada por dois movimentos armados: a revolução de 1.930 que pe fim a
chamada "república velha", com a deposição de Washington Luiz e a revolução de
1.932 chamada de" revolução constitucionalista", deflagrada pelo Estado de São
Paulo, contra o governo provisório de Getúlio Vargas.
Evidentemente esses
movimentos refletiram na vida pública do País e, por consequência nos estados e
nos municípios.
Existia em Campanha nessa época duas agremiações
políticas-partidárias, conhecidas como "Açucar e Rapadura" (era comum nessa
época, apelidos para as agremiações políticas)
O Dr. Serafim Maria Paiva de
Vilhena, desde 1.918 passou integrar - eleito pela legenda dos "Açucar" - a
Câmara Municipal da Campanha sucessivamente como Vereador, Presidente da Câmara
e Agente Executivo. Nesse último munus público, equivalente a Prefeito, hoje,
teve atuação destacada no movimento revolucionário de 1.930, podendo
ainda assegurar ambiente tranquilo à comunidade Campanhense, evitando o terror e
o exodo da população.
Simpatizande de Antonio Carlos Ribeiro de Andrade,
ex-Presidente do Estado de Minas, principal articulador e organizador da
"Aliança Liberal" e um dos líderes da revolução de 1.930 que, ja em 1.929, em
discurso proferido dizia: "Façamos a revolução pelo voto antes que o povo a
faça pela pelas as armas". Serafim, empolgado com as idéias progressistas de
Antonio Carlos, passa integrar a nova agremiação política, a "Aliança
Liberal".
O vereador José Messias Dias, lider dos "Rapadura", que também se
postou ao lado dos revolucionários, cuja única atuação revolucionária foi
dinamitar a ponte do rio Palmela,na suposição de que os Paulistas, aliados do
governo federal, pudessem entrar na cidade, o que nunca aconteceu - foi nomeado
prefeito da cidade da Campanha, pelo então governador revolucionário, recem
eleito, Olegário Maciel.
A atuação de José Messias Dias, a frente da
prefeitura da Campanha foi a mais desastrosa possível. Uma comunidade acostumada
à homens de raizes tradicionais, austéros e invulgáres, verdadeiros paradigmas
de um povo que os admirava e respeitava como lideres autenticos, passou a impor
o cotidiano do despotismo, da arbitrariedade, do despreparo e do desatino
daqueles, que um dia, julgaram-se capazes de conduzir o destino de uma
comunidade ordeira e pacífica como era a população Campanhense.
Incontestavelmente jogou o histórico município da Campanha às trevas medievais.
Rememorou em sua gestão os terriveis tempos de "Roma Restricta"
O seu
desiterato terrorista atinge o limite da irresponsabilidade e do desatino,
quando ordena o que ficou conhecido como a "noite do terror". Numa tentativa de
subjugar pela força e amedrontar os opositores e a população - o prefeito e seus
capangas, mais o destacamento policial local, promovem um tiroteio por toda a
cidade, ocupando as ruas principais, atirando indiscriminadamente nas casas e em
locais públicos. Felizmente não houve mortes, muito embora, tinha-se evidente o
assassinato de lideres e opositores ao regime local, como a de Serafim de
Vilhena e o Sr. Dico Almeida que não era homem público, mas reagiu ao tiroteio
em defesa da população e por pouco não teve toda a família assassinada.
Homem
determinado, destemido e com uma liderança sempre voltada para o bem da
coletividade, Serafim se insurge contra administração e a tirania de José
Messias em defesa de uma sociedade vitima da crueldade, do autoritarismo e do
abuso de autoridade. Promove o enfretamento com destemor e com a firmeza própria
daqueles que lutam contra a tirania de uma minoria perniciosa com a única arma
com que dispõem: "a força moral,
E o fez com a galhardia de homem de
princípios inquebrantáveis. Viajou para capital do Estado - as suas espenças - e
la pemanecendo por cerca de 40 dias, com objetivo explicito de destituir, por
meios legais, o atual chefe do executivo municipal da cidade da Campanha. Seu
púnico objetivo era re-instaurar a ordem e dar alforria ao povo
Campanhense.
Não à-toa o ex-Presidente Tancredo Neves afirmava que o maior
compromisso de Minas era com a liberdade. A liberdade está inscrustada nas
raizes dos mineiros e não é por acaso que se destaca em seu Pavilhão. Minas é a
terra da Inconfidência
Imbuido desse propósito é que Serafim se mostra firme
e convicente perante o governardor do Estado, Olegário Maciel, sobre a
necessidade imperiosa de destituir o prefeito e assegurar ao municipio e a
comunidade Campanhense a paz e a tranquilidade tão almejada por toda população
que, por circunstância inexplicável, se vê diante do arbitrio, do terror e do
despotismo.
Serafim sempre exerceu uma liderança voltada para o bem público,
a par de uma conduta exemplar, firmeza de vontade, atributos esses que
foram decisivos ao seu propósito, não dando ao governador outra alternativa,
senão a destituição de José Messias. Graças a essa atuação descomprometida com o
interesse pessoal, a paz e a tranquilidade e principalmente a liberdade são
restauradas e devolvidas à comunidade Campanhense.
Deposto José Messias, ato
contínuo, o governardor nomeia o engenheiro Antonio Manoel de Oliveira Lisboa,
prefeito da Campanha, que governou a cidade de 16.06.1.932 a 11.01.1936.
O
Dr. Lisboa, como era conhecido, não era Campanhense, morava em Belo Horizonte,
onde exercia um cargo público. A sua nomeação para prefeito de Campanha
constitui mais uma demonstração da liderança de Serafim, sempre voltada para o
interesse da comunidade. Foi essa a conduta que sempre norteou a sua vida
pública: nada pretendeu em beneficio próprio. Perguntado pelo governador: o
senhor quer que destitua o José Messias e nomeia o senhor prefeito de
Campanha? O que prontamente Serafim responde: não, não quero, o que postulo de
V. Excia. é a destituição do prefeito atual e a nomeação de um cidadão honrado,
estranho à cidade, capacitado, de sua confiança e capaz de pacificar a cidade e
restaurar a ordem e a tranquilidade. É o que a Campanha precisa.
Ao
desembarcar em Campanha de regresso de Belo Horizonte, na noite de 9 de junho de
1.932, após destituir José Messias, Serafim viveu uma das maiores emoções - se
não a maior - de sua vida pública. Ali estavam na estação ferroviária da cidade,
ocupando a plataforma e as ruas próximas, toda a população Campanhense, pessoas
de todas as classes sociais estavam ali presentes, desde os mais simples, aos de
maióres representatividade, foi uma verdadeira consagração pública. Após ser
saudado e cumprimentado por todos, a multidão o aconpanhou até a sua residência,
onde sua esposa e filhos o esperavam.
Serafim Maria Paiva de Vilhena, foi um
homem de firmeza de caráter e, em toda a sua existência, teve como
carácteristica, o propósito de ser aquilo que é, com suas opiniões e o seu
procedimento. Com grande força de atenção e firmeza de vontade, não se revestiu
das coisas que o rodeavam e nunca mudou de sentimentos conforme ocasiões. Sempre
soube o que fazia; não se deixava seduzir pela popularidade, renegando a própria
consciência. O que nobremente sentia, virilmente sustentava, com elevação de
pensamentos, clareza de objetivos e franqueza de seus atos.
Tarcísio
Brandão de Vilhena
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